A FIFA está utilizando o Mundial de Clubes como instrumento para favorecer o reposicionamento geopolítico dos Emirados Árabes Unidos (EAU) – e mais amplamente, do Golfo Pérsico – como um novo epicentro do poder esportivo global. A seguir, um resumo analítico com base no contexto geopolítico atual:
O Contexto Geopolítico Global
- O mundo multipolar atual é marcado por reorganizações de influência, com países do Golfo tentando reduzir sua dependência do petróleo por meio da diversificação econômica (ex.: Visão 2030 da Arábia Saudita).
- O soft power via esportes se tornou uma ferramenta estratégica, sobretudo para regimes autoritários ou monarquias, que buscam legitimidade internacional, influência cultural e reputação global
O Papel da FIFA e o Mundial de Clubes
- A FIFA, como entidade supranacional com grande capital simbólico e político, necessita de investimentos vultosos para seus eventos.
- Os EAU e a Arábia Saudita, com fundos soberanos trilionários e agendas claras de “sportswashing”, oferecem exatamente isso: capital e estabilidade logística.
- A realização de diversas edições do Mundial de Clubes no Golfo (Abu Dhabi em 2009, 2010, 2017, 2018, 2021) dá visibilidade global a esses países, muitas vezes com baixa tradição futebolística, mas com alto apelo de projeção.
Estratégia de Soft Power do Golfo
- Os EAU vêm construindo uma imagem de hub global de esportes e tecnologia. Investimentos no Manchester City (City Football Group), eventos de UFC, F1 e o Mundial de Clubes fazem parte dessa estratégia.
- Há uma concorrência direta com a Arábia Saudita, que também tem aumentado seus investimentos com a LIV Golf, contratação de estrelas do futebol e sediamento da Copa do Mundo 2034.
- Ao apoiar e sediar o Mundial de Clubes, os Emirados reafirmam sua posição como potência diplomática e esportiva regional, diante de potências tradicionais.
Conclusão
A FIFA, ao manter relações estreitas com os Emirados Árabes e outros países do Golfo, acaba por colaborar com sua ascensão geopolítica no esporte global. O Mundial de Clubes funciona como vitrine diplomática e simbólica, fortalecendo o soft power desses países enquanto reafirma os laços financeiros e políticos entre o futebol e os novos centros de influência global.